ADRESO_resumos

Sunday, September 03, 2006

OS TRES ALENCARES
(fichamento)
Candido,Antonio. Formação da literatura brasileira:momentos decisivos. 2o.volume.
5.ed. Belo Horizonte,Ed.Itatiaia; São Paulo,1975.

Segundo o autor, a vontade de escrever, veio a J.Alencar por duas etapas: a primeira, aos 15 anos, sob a influência das leituras de Chateaubriand, Balzac,Vigny, Hugo, Dumas, quando Alencar pensava em escrever uma obra ao estilo dos franceses - um poema da vida real; a segunda, aos dezoito anos, quando viajava pelo Ceará, sente o impulso de cantar a terra natal.
Na verdade, aos 27 anos, na série de folhetins do Correio Mercantil, surge Cinco Minutos, como esboço do que poderia chamar "poemas da vida real". O Guarani, surge em 1857. Por vinte anos, a literatura de Alencar varia entre as duas posições iniciais: a complication sentimentale e a idealização heróica de O Guarani.
De 1857 a 1860, Alencar ocupa-se com o teatro, voltando ao romance apenas em l862 com Lucíola. Em 63, surge Diva, de 64 a 65 surge As Minas de Prata, Iracema* em 65.
* exemplar mais perfeito da prosa poética na ficção romântica.
J.Alencar, firma contrato com a Livraria Garnier, e a partir de então, 1870, publica em seis anos 12 romances, sem contar com os inacabados, entre eles Encarnação. É dito que nessa fase ele imaginou dar à sua obra um sentido de levantamento do Brasil. Cultiva o regionalismo - descrição típica da vida e do homem nas regiões afastadas (O Gaúcho, O sertanejo). São romances da burguesia: A Pata da Gazela, Sonhos dÓuro e Senhora. A Guerra dos Mascates, As Minas de Prata, são romances históricos. Como tradições do Rio, tem-se: O Garatuja, O Ermitão da Glória e Alma de Lázaro. O Tronco do Ipê e Til, retratam a vida rural. O indianismo está presente de novo em Ubirajara ( este agora já em contato com o branco).

Desses vinte e um romances, nenhum é péssimo, todos merecem leitura e, na maioria, permanecem vivos, apesar da mudança dos padróes de gosot a partir do Naturalismo. Dentre eles, três podem ser relidos à vontade e o seu valor tenderá certamente a crescer para leitor, à medida que a cr´ticia souber assinalar a sua força criadora: Lucíola, Iracema e Senhora (p.222).

Nos noventa anos de produção, distingue-se dois alencares: o Alencar dos rapazes, heróico, altissoanante; o Alencar das mocinhas, gracioso, às vezes pelintra, outras, quase trágico.
(p.221-222)

O primeiro Alencar
Heroísmo e galanteria
O herói surge como Peri, Ubirajara, Estácio Correia, em As Minas de Prata; como Manuel Canho, em O Gaúcho; Arnaldo Louredo, em O Sertanejo.- contexto de uma sociedade mal ajustada, com desejo de crescimento político - insucessivas lutas - frustações diante da mudança de vida. J. Alencar manifesta claramente a vocação para a fuga do real.
Nos romances heróicos, O Sertanejo, O Gaúcho, Ubirajara, As Minas de Prata, O Guarani, a vida é representada por personagens inteiras. Porque aí, a vida é apairada, aplainada - o jogo está pré-estabelecido.
Uma vez embalado, o sonho voa célere sem dar satisfações à vida, a que se prende pelo fio tênuo, embora necessário, da verossimilhança literária.(p.223).
José de Alencar estabeleceu na criação de seus personagens indígenas o modelo do índio ideal, embora criado por Gonçalves Dias, mas lançado no cotidiano por ele. Sabe-se que é lenda, mas permanece na ilusão de uma raça heróica.
(p.223- 4)

O segundo Alencar
José de Alencar é criador de mulheres cândidas e de moços muito bons, nas lutas entre o dever e a consciência. Sempre com um obstáculo na união dos namorados, no entanto, incapaz de destruí-la. Em Cinco Minutos, a tuberculose; n´A Viuvinha, honra comercial; em Diva, o orgulho; n´A Pata da Gazela, erro sentimental; n´O Tronco do Ipê, fidelidade ao passado; em Sonhos d`Ouro, respeito à palavra. Com exceção de O Tronco do Ipê, o fulcro de energia narrativa é sempre a mulher. Nos seus romances, onde o homem é o foco, não existe o desfecho da união feliz. - foge do cotidiano da vida urbana, onde privilégios são mais relevantes. (p.224-225).

O terceiro Alencar
É o Alencar dos adultos, não desprezando a força dos outros dois. Formado por uma série de elementos pouco elegantes e pouco heróicos, mas que dá contornos artísticos e humanos aos perfis de homem ou de mulher. Muito visível em Senhora, Lucíola, onde o homem e a mulher se defrontam em plano de igualdade. -
Nesse novo cenário, Alencar amplia o campo de ação dos personagens, os quais se aprofundam em dimensões maiores da alma, na liberdade de gestos, enfim, nas relações humanas. São explorados temas sociológicos, as relações humanas giram em torno do desnivelamento das classes sociais e econômicas. (= preocupação central de seus romances, - apenas Cinco Minutos é exceção) . - o moço de talento, em busca do amor, sente-se diante de Deus e Mamon, e aí tem que ser salvo pelo romancista, que o coloca junto com a mulher rica. Apenas em A Viuvinha e Senhora, a questão da consciência individual é tocada mais diretamente em face do dinheiro.
O drama do jovem diante da sociedade burguesa, - o prestígio social e a vida do espírito.

A sociedade brasileira lhe aparece como campo de concorrência pela felicicade e o bem-estar, onde a segurança, a solidez, se encarnam em dois tipos: o comerciante e o fazendeiro(p.226).

O que predomina nos dramas é o rapaz pobre que casa com a rica, filhas de comerciantes ou fazendeiros.
A essência do processo narrativo é a diferença de condições sociais - o comportamento do homem pobre diante da filha do ricaço: não enfrentam as heroínas no mesmo terreno: ou se acachapam(?) diante delas, ou as tratam com muita altivez. Quanto maior o conflito, melhor o livro.
Elemento condutor importante na obra de Alencar é o passado: em A Viuvinha, O Guarani, As Minas de Prata e Encarnação. Também em Lucíola, o drama do passado influi ostensivamente no romance: a maneira brutal pela qual foi violada concdiciona, o sacrifício de honra, a pureza de infância, condicionam toda a sua vida.
No Gaúcho, o desejo de vingança de Manuel Canho, são lembrança da infância e de sua mocidade e do assassínio do pai. A mesma situação de passado ocorrem em Til, O Tronco do Ipê e Sonhos d`Ouro.(p.225-230).

Desarmonia e a força do romancista
O choque do bem e do mal é presente nas obras de J. de Alencar. Em O Guarani, a perversidade de Loredano; em As Minas de Prata, a figura do padre Gusmaão de Molina; em Lucíola, a luxúria do velho Couto; o orgulho em Diva; a exibição de malvados emTil; as perfídias do Capitão Fragoso, em O Sertanejo.
Em Alencar está sempre presente a percepção do mal atravancando o bem durante a vida humana - a dialética do bem e do mal.
Os tipos criados por Alencar são divididos em três categorias: os inteiriços, os rotativos e os simultâneos.
Os inteiriços: D.Antonio de Mariz, Loredano, Peri, Arnaldo, (O Sertanejo), Ricardo (Sonhos dòuro), Ribeiro Barroso,(Til) - as mesmas pessoas no bem e no mal. (predominam em sua obra).
Os rotativos: João Fera em Til, passa de bom a vilão, depois de vilão a bom; Gusmão de Molina, de doidivanas a jesuíta sinistro, daí a santo ermitão; Diva, de feia e meiga a bonita e má, depois, meiga de novo, etc.
Os simultâneos:Lúcia e Paulo Silva (Lucíola), Amélia em Fernando Seixas (Senhora), agem com muita complexidade e assim perdem a conotação simples.
Alencar é um grande artista da ficção - capacidade narrativa como também senso apurado do estilo. Abusa um pouco da descrição. Guarda amor pelas peripécias, desde Os folhetins. Gosta de revelações surpreendentes, (Til) (A Viuvinha). Tom sentenciocioso, às vezes da ironia.

(...)nesta ocasião antes queria desistir do meu propósito, do que desdobrar aos seus olhos êsse véu de pontinhos, lmanto espesso, que para os severos moralistas da época aplaca todos os escrúpulos, e que em minha opinião tem o mesmo da máscar, o de aguçar a curiosidade(...)(p.232)

Alencar como idealista pende um pouco ao extremo oposto. Amor exagerado, laços de família com extrema paixão, excesso de açucaramento nos seus livros, são aspectos que prejudicaram um pouco a leitura de seus livros. Idealismo presente nos diálogos. Em Iracema - muito lirismo e ainda mais em Lucíola. Aguçado golpe de vista para o detalhe - intuição da vestimenta feminina - vestidos de Lúcia (na festa da Glória, em Lucíola), pegnoir de veludo(Senhora). Portanto, é imensa sua capacidade de arte literária. - muitos detalhes e enriquecida com grande capacidade crítica. No entanto, no conjunto, os detalhes se repetem, não dando tudo mais do que dois ou três romances .
(p.230-235)